A POESIA REFLEXIVA DE DRUMMOND - ÁPORO
O Prof. Davi Arrigucci Junior fala sobre o universo poético de Carlos Drummond de Andrade.
Nesse programa o prof. Davi Arrigucci analisa o poema "Áporo", do livro "A Rosa do Povo", de 1945, a partir de um trabalho realizado de análise feito pelo poeta Décio Pignatari. A partir das pesquisas realizadas em vários dicionários, Décio Pignatari descobriu que áporo tinha vários significados: problema difícil; um tipo de inseto da ordem dos himenópteros e também, um tipo de orquídea.
De acordo com o Prof. Davi, curiosamente, parece que o poeta se serviu dos significados do termo Áporo para construir o poema, já que na primeira estrofe se fala do inseto, na segunda se fala de enlace de noite, raiz e minério, de país bloqueado, na terceira se fala de labirinto, e na última, em orquídea, ou seja, o inseto cavador depois de passar por um labirinto aparentemente se transforma em uma orquídea.
Segundo o Prof. Davi, Drummond escreveu esse poema na década de 40 quando o Brasil passava pela ditadura militar getulista. Então o Áporo pode ser uma alegoria de uma situação sem saída que está glosada na história do inseto, na história do poeta. Tem uma história pessoal do escritor em minério e no ato de escavar, de mineirar. Há um trabalho do poeta de construir o poema. O sentimento de desvalia do trabalho poético está incorporado no poema como um sentimento do mundo, um sentimento de que o trabalho é reles e pequeno e que no entanto, persistindo naquilo que ele é propriamento dito, que é o poder ser, ele pode gerar o outro, pode surgir o novo. A história do áporo é uma meditação sobre a possibilidade de ser fiel a si mesmo e nunca desistir da luta, apesar das dificuldades.
O Professor Davi Arrigucci Junior, nasceu em São João da Boa Vista (São Paulo) em 1943. Professor aposentado de teoria literária e literatura comparada na USP, , onde lecionou de 1965 a 1996, crítico e ensaísta consagrado, estreou como romancista com Ugolino e a Perdiz, a “saga” de um caçador quixotesco em busca de uma perdiz encantada. Ao estrear como ficcionista, Arrigucci disse estar sentindo um prazer que não sentia com sua produção anterior de ensaios – o que talvez soe injusto com uma das mais sólidas coleções artigos sobre escritores nacionais e estrangeiros, com destaque para O Escorpião Encalacrado (sobre o argentino Julio Cortázar) e O Cacto e as Ruínas (sobre Manuel Bandeira e Murilo Mendes). Publicou recentemente o livro "Coração Partido", em que analisa a poesia reflexiva de Carlos Drummond de Andrade.