O CINEMA CLASSICO NA OTICA DE ALFRED HITCHCOCK - O OLHAR INDISCRETO
Alfred Hitchcock é um dos cineastas mais comentados, biografados e reverenciados de todos os tempos. Ele já foi tratado como um mero empregado dos estúdios, repetindo a mesma fórmula para garantir bilheterias, mas também já foi alçado à condição de gênio, de grande autor, principalmente depois que os franceses da Nouvelle Vague (Truffaut à frente) promoveram uma releitura respeitosa (e quase sempre precisa) de seus principais filmes. Ismail Xavier mostra Alfred Hitchcock como um trabalhador do cinema e um mestre da linguagem ao analisar um momento de extrema criatividade do diretor - Rear Window (Janela Indiscreta) - no qual Hitch relaciona o próprio cinema ao melhor estilo voyeur. No filme, de 1954, James Stewart vive o fotógrafo Jeff, confinado em uma cadeira de rodas em seu apartamento em virtude de um acidente que sofreu. Para passar o tempo, Jeff mune-se de binóculos e espiona o cotidiano dos vizinhos: desconfia da existência de um assassinato no edifício em frente ao seu. Na investigação do suposto crime, Jeff conta com a ajuda de sua enfermeira particular e pretendente amorosa Lisa (Grace Kelly). A proposta de Hitch para a filmagem, confinando a ação ao apartamento de Jeff, exigiu o maior cenário até então montado pela Universal Studios para um longa metragem. Um dado curioso é que o vilão escolhido por Hitchcock - o ator Raymond Burr - é muito parecido fisicamente com o produtor dos filmes de Hitch na época, David O. Selznick. O estilo de Hitchcock, que combina realismo na ação, uma certo maneirismo na construção dos personagens e extrema inventividade na narrativa visual (resultante, antes de tudo, de uma decupagem brilhante e sofisticada), já foi muito copiado, mas, como acontece com obras e autores de exceção, não pode servir de paradigma para ninguém.